sexta-feira, 5 de outubro de 2012

O Museu Zoológico



Continuando a deixar-me embalar pela marcha do tempo, persisto caminhar sobre as lembranças  que trago da vida, momentos que foram reais e inesquecíveis que os guardo como tesouros que se devem conservar. É nesse contexto que afloro o Museu Zoológico Álvaro de Castro(hoje Museu Nacional de História) que se localizava junto à Rotunda da Praça dos Descobrimentos(hoje Praça Travessa do Zambeze) e que podia ser observado a partir do Liceu Salazar(hoje Liceu Josina Machel). Tratava-se de um edifício de traça invejável, refletindo uma tonalidade branca expansiva que perfumava o tipo de construção neomanuelino inaugurado no início da década trinta. Despertava especial atenção  a todos quanto o visitavam e os turistas estrangeiros não se cansavam de captar imagens até  esgotarem o rolo fotográfico para mais tarde recordarem aquela bela joia de África. Destacava-se logo à entrada do Museu o busto do seu fundador, ladeado de um jardim encantador e no seu interior brotava da pedra a selva concebida por  taxidermistas exímios na arte de embalsamar , que davam expressão a uma rara coleção de animais selvagens retirados do seu habitat natural, após serem abatidos e havia ainda uma ala onde eram visíveis  répteis e espécies marinhas e conchas de rara beleza. Ainda me recordo da minha primeira visita, que não foi a única e, foi pelas mãos dos meus pais que subi as escadarias trabalhadas em madeira da melhor qualidade, que nos guindavam até às largas galerias de onde se podia contemplar cenários de animais bravios, simulando cenas naturais. A visita tenho que admitir, atendendo à flor dos meus oito anos foi de um susto de arrepiar que só esmoreceu já de saída. Mais tarde já como estudante do liceu vizinho, tive oportunidade de em visitas de estudo guiadas e com rasgos de maior atenção, perceber melhor o que a selva engendrou. Sucederam-se depois mais algumas idas aquele espaço considerado histórico, quiçá o único no mundo que expõe fetos de elefantes desde um mês até aos vinte e dois meses. São estas imagens inapagáveis, ainda que o tempo marque uma distância, que nos ajudam a viver de novo algo que aconteceu e a pronunciar com indisfarçável  felicidade, que eu estive lá.

Manuel Terra