domingo, 19 de agosto de 2012

O velho aeroporto de Mavalane




Continuando a rever imagens memorizadas, presas para sempre às memórias do tempo e que me ajudam a recordar a minha infância e a de muitos jovens da geração a que hoje pertenço acabo sempre por entender que as citações e fotografias daquela boa época, servem para maximizar a saudade expressa num sentimento que nos faz sorrir e que também dói, logo que a mente é chamada a intervir. Evocar o passado representa um momento que nos detém por breves instantes numa viagem, que não tem ponto de partida ou de chegada e que acontece sem sair do mesmo local. As minhas referências lembram-me o antigo aeroporto de Mavalane, que sofreu algumas alterações até meados da década 60, substituído depois pelas novas instalações consagradas ao navegador Gago Coutinho e agora totalmente renovado e ampliado com o nome de Aeroporto Internacional de Maputo. Torno-me abstrato e aguardo o feedback  que me ligou de  forma muito especial aos muitos domingos, que  após missa o meu saudoso pai ir apanhar o machimbombo da linha 13 levando-me consigo e por vezes também o meu irmão até ao velho aeroporto, onde terminava a Av. de Angola defronte  de um pequeno espaço verde, onde era possível descortinar alguma sombra e que servia a praça de táxis. Lá chegados o meu progenitor  levávamo-nos carinhosamente até ao salão de chá do restaurante existente  no edifício, para as habituais torradas bem amanteigadas acompanhadas por café com leite servido em bule. Concluído o pequeno almoço muito especial era altura de nos encaminhar-mos até à longa varanda que servia de ponto de observação à pista, já cheio de entusiastas que aguardavam a aterragem quase sempre agendada para as 11 horas, do pássaro metálico oriundo de Lisboa . Pouco depois já se via em trajetória descente  o Super Constellation dos Transportes Aéreos Portugueses preparado para abraçar aquela longa terra africana, saudada pelo intenso ruido das suas potentes hélices. Para trás ficava uma longa viagem de quase 16 horas, atenuadas por algumas escalas. Ao hall da aerogare, chegava pela primeira vez a África gente aventureira à procura de novo lema para a sua vida, homens de negócios, mas também viajavam residentes de LM que vinham de férias da Metrópole que se desdobravam entre beijos, lágrimas, abraços e apertos de mão. No final a tradicional entrada triunfante e feliz da tripulação, com um sorriso nos lábios pelo dever cumprido. Todo aquele labirinto da aerogare me contagiou, tantas foram certamente as emoções do cruzamento de destinos entre esperanças e desilusões  que presencie, razão pela qual  já na adolescência fazia questão de ir tomar café inúmeras vezes ao novo aeroporto, para assistir ao ritual de partidas e chegadas. Já lá vão quase cinco décadas e ainda que o tempo seja condicionado pelo o sentido dos ponteiros do relógio, nada  pode travar o sentimento da saudade, ainda que o caminho seja sempre o do futuro.

Manuel Terra