terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Casa Coimbra






Voltando aqueles belos tempos vividos na Pérola do Índico, as recordações são sempre como buracos sem fundo onde escorrem sonhos, aventuras, fascínios, cheiros e sons de África . Mas há lembranças que jamais poderão ser revistas, porque a vontade dos homens submissa a interesses não compatíveis com a História, com detalhes de uma arquitetura  de várias influências e até de tempos, vai eliminando espaços míticos . É sempre com muita mágoa, quando tudo se esvaia numa espécie de dormência eterna. Há poucos dias fui tocado pela notícia da demolição em plena baixa da capital moçambicana, do edifício Casa Coimbra edificado em 1940 traçado e construído a bom gosto, muito bem preservado  mandado construir por dois súbditos paquistaneses, que a exemplo de muitos outros compatriotas deixaram a chamada Índia inglesa e aportaram a LM e a outros pontos do país, nos primórdios do século XX onde se distinguiram como grandes comerciantes. A Casa Coimbra era um símbolo de referência do comércio local, com secções de alfaiataria, bijutarias, artigos orientais  como também as últimas modas inglesas, perfumes, malas, carteiras e muito mais. Os andares superiores estavam reservados para escritórios de advogados, médicos onde o meu dentista exercia a sua atividade. Situado em pleno coração da baixa citadina, com vistas para o velhinho Edifício Pott( ainda hoje em ruínas, depois do violento incêndio de 1990) contemplava ainda o transformado Scala e o Continental(fechado) sem a resplandecência das românticas esplanadas. No seu lugar será implantado um moderno complexo em forma de torre com 30 andares, por iniciativa do Banco Central de Moçambique. Ainda recordo com saudade os tempos em que os laurentinos nos seus passeios habituais pela Av. da República (hoje 25 de Setembro) paravam não raras as vezes junto ao referido estabelecimento, para fixarem o olhar para o placard eletrónico suportado por torres metálicas, onde se podiam ler os títulos das principais noticias e os casos de última hora. Eram instantes de ligeira acalmia, indiferentes ao trânsito e o bulício da zona. Agora só já restam montões de entulho, numa  amalgama de ferros e cimento, que serão lançados para qualquer lixeira, até que um dia fiquem soterradas todas as essências de mais de sete décadas de existência

Manuel Terra