quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Parque Silva Pereira




Neste rol de evocações que se vão sucedendo, a ufania da minha juventude tocada pelos bons momentos e instantes de felicidade vividos  em L.M, relembra-me as passagens quase diárias pelo Parque Silva Pereira (hoje Jardim dos professores) zona verde, muito tropical procurado em tardes solarengas por muitos alunos que frequentavam o Liceu Salazar (hoje Escola Secundária Josina Machel) no início da Av. Brito Camacho (hoje Patrice Lumumba) e que se situava mesmo defronte do parque. Contrariamente ao apelido atual, naquele tempo era o verdadeiro jardim dos estudantes que apenas tinham que atravessar a passadeira, para atingirem a encantadora zona bem orlada de árvores e canteiros . Ao fundo o seu belo miradouro coberto de trepadeiras, de onde era possível deslumbrar o olhar contemplando no horizonte, a majestosa Baía Espírito Santo , os navios que cruzavam as suas águas e a íngreme barreira da Maxaquene. A vegetação verdejante do parque, marcada pela beleza multicolor das suas plantas, contrastava familiarmente com os bancos já gastos pela torreira do sol ou a impiedade da chuva e, todos lhes davam uma importância muito especial tornando-o num ponto de convergência  de muitos miúdos e adolescentes, que de pasta na mão aguardavam com tranquilidade, mais um dia de aulas. Era seguramente, um local de lazer e de estudo e que servia de igual modo para os mais novos descarregarem a adrenalina e os mais espigadotes  trocarem olhares amorosos ,com as moças que se posicionavam nos varandins da ala feminina do liceu. Ali tinham lugar habituais pândegas académicas, que escondiam muitas emoções e histórias proibidas. Fazia parte da rotina dos sábados no parque, as atividades da Mocidade Portuguesa organização vincada por uma estrutura pré-militar, integrada como disciplina obrigatória  regida de inexorável pontualidade, decretada pelo toque da ruidosa campainha que se fazia ouvir no átrio do estabelecimento de ensino. Passava-mos meia manhã encafuados em fardamentos de camisa verde escura e calção de caqui,  bivaque  na cabeça  marchando e em exercícios físicos, seguidos com natural curiosidade por  pedestres que por ali circulavam. O parque tornara-se também  itinerário quase obrigatório de  turistas, que  viajando por vários continentes, se hospedavam no vizinho Hotel Cardoso e que em momentos de visível  descontração se deitavam sobre a relva ou tiravam fotografias de grupo. São estes  factos uma constante da vida, recordações de um tempo áureo que deixa marcas e que me obriga a constantes divagações por vias do passado.

Manuel Terra