terça-feira, 7 de junho de 2011

O semanário Tempo




Soube recentemente, que vai ser reeditado o semanário Tempo em forma de revista na capital moçambicana e de imediato chegam-me à caixa de recordações, imagens da sua publicação de outrora de capas coloridas e impressa em moderno offset, que causou furor naquele território, no início da década 70. Tinha a sua gráfica e redação na cave do imponente Prédio Invita com os seus vinte pisos, sito na Av. Afonso de Albuquerque(hoje Ahmed Sékon Touré) já muito próximo do cruzamento com a Av. Princesa Patrícia(hoje Salvador Allende) e com vista para a Mansão/Associação dos Velhos Colonos. Lembro-me do lançamento do semanário que foi apoiado por um grupo de accionistas e do corpo redatorial, que tinha como diretor adjunto Rui Cartaxana(já falecido) e com a colaboração de Mota Lopes, Areosa Pena, Migueis Júnior , Mia Couto entre outros jornalistas de uma geração de reconhecidos méritos e, dos repórteres de imagem Ricardo Rangel(já falecido) e de Kok Nam. Tinha como forma de toque o molde com que abordava questões relacionadas com a economia, investimentos, eventos sociais, culturais e desportivos, bem assim como artigos de opinião e a caixa de correio dos leitores. Com uma linha editorial ousada para a época, afinal vivia-se a propalada primavera marcelista, a Tempo aproveitando o ambiente político e social que fervilhava, enfrentou a censura existente contudo mais benevolente na  Pérola do Índico, incomodando o regime. Como seria de esperar o teor de informação suscitou a curiosidade de todos os que lá nasceram ou habitaram, a esgotarem-se muitas edições nas bancas como consequência do ávido interesse dos leitores que procuravam comprender melhor  a realidade do Império  português . Considerado por uns como sensacionalista e polémico e ,por outros como um órgão de comunicação  diferente e independente,  acabou no período pós-independência por se extinguir, presumivelmente por falta de sustentabilidade. Que os novos tempos constituam um desafio para os seus responsáveis, tendo o bom gosto de perseverar o título do semanário obrigando-me por instantes  a recuar a uma época da qual eu e muitos mais fomos assíduos leitores.

Manuel Terra