domingo, 27 de dezembro de 2009

Por conta própria



Turista que se preza não termina as suas férias sem dedicar um dia às compras de recordações que hão-de comprovar “ad aeternum” a sua passagem pelo local por si escolhido.
Se há uma cidade onde, nesse sentido, o viajante terá a vida facilitada, Maputo é seguramente  uma delas.
Mesmo ao mais desatento turista, não lhe é permitido que ignore o que naquela terra há de bom. Quem percorre as ruas de Maputo chega a pensar que o comércio saiu à rua. Muitos dos metros quadrados dos passeios da cidade, são disputados pelos inúmeros vendedores ambulantes. Há quem venda à porta das lojas do comércio tradicional, os mesmos produtos que esses lojistas expõem nas montras. Como é possível que essa coabitação pacífica se mantenha sem desavenças? Pergunta o turista.
Um homem da terra, com um sorriso esclarecedor, afiançou-me que existe um “acordo de cavalheiros” entre as partes. Os produtos vendidos no passeio são adquiridos nessas lojas pelos vendedores ambulantes  que,  em caso de venda, se comprometem ao retorno de uma quantia previamente estipulada. Estranho, pensei eu, mas se a paz reina entre todos é porque o sistema funciona, admiti.
Este tipo de comércio ambulante dá origem a um movimento inusitado,  no que sobra dos passeios, de gente que se movimenta  atenta à procura daquela “pechincha” de que sempre esteve à espera. E ninguém leva a sério o valor do custo dos produtos, inscritos à mão num pedaço de cartão. Cada acto de compra, é precedido por uma negociação, onde o turista, com um certo jeito para regatear, pode adquirir a um preço justo os produtos recomendados pelo seu desejo.
E há de tudo, desde bebidas alcoólicas, até acessórios para o automóvel, passando pelos produtos hortícolas da época, roupa, sapatos, óculos, artesanato, etc.
E para quem vê, o seu telemóvel a avariar de um momento para o outro, negando-lhe aquela conversação urgente que estava a ter, também  encontra uma banca SOS para reparação deste e de outro tipo de produtos tecnológicos. A reparação é feita de imediato perante o olhar ansioso do cliente, que ao ver ao o seu telemóvel devolvido à vida, nem discute o valor que tem  que pagar por isso.
Podemos assistir à capacidade que muitos vendedores, têm de analisar a todo o momento, as tendências do mercado, e que em momento desfavoráveis pegam no atrelado de duas rodas, onde montam a sua banca, e vão ao encontro de outra esquina, onde a procura se adeqúe mais aos produtos que vende. É caso para de afirmar que esses negócios têm rodas para andar!
Com tanta gente a trabalhar por conta própria (às vezes parecem mais que os compradores), num negócio que certamente contribuirá pouco ou nada para a receita fiscal do País, perguntamos porque será que as autoridades “fecham os olhos” a esta realidade. Aprofundando um pouco mais este fenómeno sociológico, percebemos então porque é que ali, os caminhos da droga têm poucos adeptos.
Mesmo sendo parcos os rendimentos obtidos neste tipo de mercado, a verdade é que todos eles, pelo menos, têm uma ocupação.


Aurélio Terra

sábado, 19 de dezembro de 2009

Os fins-de-semana na Namaacha




Debruçado sobre a janela das memórias, tento avistar no horizonte das minhas recordações, aquela simpática vila, a que muitos talvez movidos por analogia chamaram a Sintra de Moçambique. Localizada numa região montanhosa, no interior sudoeste a 80 Km da capital moçambicana, faz fronteira com o reino da Suazilândia. Recuo ao tempo em que muitos laurentinos se encaminhavam aos fins-de-semana para a Namaacha, para usufruírem do repouso de uma semana de trabalho, naquele espaço aprazível, recheado de exotismo e extraordinária beleza. Jamais esquecerei, que também foi por lá que passei alguns dos melhores dias da minha vida e, porque lhe devia essa gratidão, visitei-a nos últimos fins-de-semana, antes do meu regresso a Portugal em Agosto de 76, em jeito de despedida. Pernoitei no antigo Hotel dos Libombos, que ficava mesmo ao lado da nova unidade de turismo, cujo proprietário era o mesmo (o Rocha, de Mirandela se não estou errado). Já lá vão mais de três décadas, período insuficiente para me desligar daquelas caminhadas matinais, que eu e um grupo de amigos tínhamos agendadas. As manhãs de Agosto eram gélidas, mas as passadas em ritmo acelerado ajudavam a aquecer. No percurso encantavam-nos aquelas casas de campo, erguidas em pedra, abundante na região, de requinte gosto com os seus pequenos quintais fronteiriços, onde as árvores de fruto tinham um lugar muito especial. O final da jornada, terminava como de costume nas suas deslumbrantes cascatas, que suportavam entre si uma velha ponte de madeira. No regresso ao hotel, ainda antes do almoço, havia tempo para uns breves mergulhos na sua longa e bem tratada piscina. Depois do repasto, as tardes ensolaradas convidavam-nos a mais um passeio, desta feita à mata de pinheiros, cercada de arame farpado, onde famílias inteiras se deslocavam para os famosos piqueniques. Por lá passavam milhares de peregrinos nas noites de 12 para 13 de Maio, em direção ao santuário mariano da Nossa Senhora da Namaacha. O dia domingueiro era reservado para o passeio geral à vila. Lembro-me das instalações escolares do Instituto Mouzinho de Albuquerque, dirigido pela Ordem Salesiana, que marcou posição de relevo no hóquei em patins e a grande “cantera” da equipa de D. Bosco. O colégio João de Deus( em ruínas) e o Barroso(hoje para  o curso de professores) eram  destinados á formação feminina. Todos os estabelecimentos da quela simpática vila, tinham uma excelente qualidade de ensino que marcou gerações para uma vida de sonho. Para o ligeiro descanso escolhíamos, o clube recreativo local. Ao longe, já se descortinavam as suas referências fabris, de uma linha de engarrafamento de água e das instalações da Canadadry, que tinham como cenário o realce cristalino, das quedas de água. Antes da noite cair, junto ao posto raiano comprávamos artigos de vestuário em lã, confecionados pelas mãos hábeis e artísticas das negras suázis. Tudo porque o inverno europeu, esperava por nós em terras lusas. A alegria só seria quebrada, pelo amargurar de um regresso indesejado, marcado pela nostalgia de um tempo perdido, varrido pelos ventos da história.

Manuel Terra

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Chamuças à mesa



Depois de mais um dia, em Agosto último, a saltar de emoção em emoção com a alma a chorar de alegria, tal era a felicidade de que se via acometida, cheguei ao Hotel quando a noite se impunha e o sol se punha. Mas já há algumas horas, que em vaivém permanente, a minha memória era atravessada por um pregão que tantas vezes o registou, em tempos que o passado fielmente guardou. De facto, o reencontro com alguns espaços da capital Moçambicana, fizeram-me crer que ouvia, proferido em voz alta “chamuçinha quentiiiiinha…”As chamuças, introduzidas em Moçambique pela numerosa população de origem goesa, era frequentemente vendida num cesto de vime com dois compartimentos, com uma asa central por onde o braço do vendedor a segurava. Eram, em regra, esses vendedores, pessoas de raça negra, que trajando uma farda de um branco imaculado, percorriam as ruas da cidade, num exercício vocal sempre exigente. De um lado da cesta saíam as chamuças com picante e do outro, para os mais comedidos em géneros alimentares, as chamuças sem picante, mas sempre muito condimentadas.
Ainda mal refeito da jornada do dia, mas com o desejo, estimulado pelas lembranças, de me defrontar com essas iguarias indianas, pus pés ao caminho e fui até ao bar do hotel, onde os meus anseios podiam ser saciados. As chamuças acabadas de cozinhar, estaladiças e com aquele sabor que tão bem as distingue, depressa conheceram a lei do mais forte.
Mas, como nem só da boca vive o homem, ainda fui contemplado com a actuação intimista de um duo de gente da terra, que soltava os ritmos musicais e a voz, com a autenticidade reconhecidamente africana.
Nos sofás que rodeavam outras mesas, tranquilamente, trocavam-se histórias, aqui e acolá interrompidas por um copo levado à boca, com esse néctar genuíno de cevada e lúpulo a que se apôs o rótulo de cerveja Laurentina.
Ninguém olhava para o relógio e tampouco dava sinais de evasão do momento. Era gente que sabiamente compreendia que cada espaço de tempo, por mais curto que fosse, só aconteceria uma vez. Aquela vez!
Que feitiço tem esta terra que faz com que cada momento de prazer seja levado paulatinamente até aos seus limites. Chega a parecer que nestas paragens de África os relógios só têm um ponteiro. O mais pequeno!
Por fim, e para encantar mais a noite, através da vidraça das portas que davam acesso à varanda do bar, descortinavam-se os contornos dessa bela obra que é a Sé Catedral, e que, do local onde me encontrava, tinha como fundo a Baía que banha a cidade.
Se há momentos em que gostaria de os congelar, para nunca os perder, este foi seguramente um deles.

Aurélio Terra

domingo, 29 de novembro de 2009

A nossa escola



Há dias em que varrido pelo vento da memória, não me consigo abstrair e mergulho numa infinidade de recordações eternamente inapagáveis. Efeitos da doentia saudade de um viajante no tempo, tocado pela mente sempre que a visão ou audição assim o exijam. Tudo a propósito de alguns dias atrás, ter observado num canal televisivo, aquando das eleições presidenciais em Moçambique (seção de voto) a antiga Escola Primária Comandante João Belo (Filipe Samuel Magaia ), a nossa escola. Sim a nossa escola, porque lá estudei, os meus irmãos e os grandes companheiros que por lá passaram. Que será feito deles? Um estabelecimento de ensino muito bem projetado, em que os arcos dos muros, corredores e janelas se enquadravavam em perfeita harmonia, embelezado por uma  considerável área de recreio bem arborizado, onde não faltavam as mesas (em cimento ) para os lanches. Apenas separado por um muro, funcionava a ala gémea destinada ao ensino feminino.  A nossa escola estava localizada na zona da Malhangalene, um dos bairros mais carismáticos da antiga Lourenço Marques. Recuo ao início da década 60. Fazia parte de uma numerosa turma multirracial, que timidamente aprendia a conjugar as frases do idioma de Luís de Camões. Ainda me lembro da minha carteira, junto a uma das janelas  emolduradas  em arco, trabalhadas na melhor madeira local por onde o sol africano se entranhava , beijando os vidros, numa espécie de boas vindas. No teto da sala de aulas, figuravam duas potentes ventoinhas que nos aliviavam do calor sufocante. À entrada da porta principal, situava-se a secretária  de quem tinha a nobre missão de ensinar, assente sobre um largo estrado que tinha a particularidade de demonstrar aos alunos a heráldica  dos pedagogos , como melhorar a observação dos alunos. Na retaguarda da secretária estava colocado o velho quadro preto de ardósia, sobre o qual pendia  um crucifixo. Nas paredes laterais estavam afixados os caixilhos, com as figuras dos governantes do Estado Novo. Junto aos cantos da sala, situavam-se os mapas de Portugal Insular e Ultramarino  que nos faziam crer que este minúsculo país, se estendia do Minho até Timor. Sem desprimor  para quem lá lecionou , aquele que certamente mais nos marcou, foi sem dúvida o professor Macedo, um homem bondoso, que se distinguia pelo fato preto e camisa branca, que envergava em sinal de luto eterno pela mulher amada. Para encobrir a sua calvície, usava um chapéu preto. Após o toque para o recreio , era ele que no período do lanche matinal, trazia debaixo do braço uma bola de basquetebol. Naquele enorme pátio coberto e ladeado de frondosas mangueiras, disputavam-se porfiados desafios, com claques bem definidas. Convém citar que  aqui jogaram grandes nomes e referências da modalidade (Leonel, Eustácio,Hélder, Zé Gordo e outros nomes que já não me ocorrem) e que a nossa escola arrebatava quase sempre os títulos, nos campeonatos escolares. O grande mestre foi também o inventor do célebre hóquei de palmadinha, que se jogava com uma bola de voleibol e cujas balizas eram dois enormes bancos de madeira, colocados em posição horizontal. Quem já não se lembra do jogo ?O sábado era o dia consagrado, às atividades da Mocidade Portuguesa, às quais era obrigatória a participação. Não gostaria de terminar a minha passagem pela escola, sem mencionar o seu diretor, o professor Renato Silva, um homem baixo que carregava mais peso que a sua idade, trajando quase sempre o inseparável fato castanho listado, que sacudia habitualmente após bater a porta da sua relíquia, um buliçoso  Austin A.40. Quando sorria, era sinónimo de bom tempo no canal. Ao invés era temível, essencialmente quando entalava a língua entre os dentes. Era sinal de tempestade. Compreendo que a minha meditação já vai longe, mas como recordar é viver, jamais esquecerei como era linda a nossa escola.

Manuel Terra

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Terra molhada.



Dezassete de Agosto de 2009, à noite, algures numa ilha do Índico, tentava a reconciliação com o sono, sem sucesso. Uma pontinha de ansiedade facilitava a vida à insónia. Ainda me lembrei das noites de 24 de Dezembro, quando as crianças recebiam as prendas de Natal a 25. Bom, mas desta vez, não havia sapatinho debaixo de um pinheiro à espera de volumes de fantasia. A verdade é que para o dia seguinte, estava previsto trocar os sapatos por umas barbatanas e praticar snorkeling (uma espécie de mergulho superficial, muito indicado para principiantes, de todas as idades), na ponta de Santa Maria, da ilha de Inhaca, onde os corais abundam. Já me imaginava como uma espécie de pato Donald no meio de um aquário.
Na manhã de dezoito, estava eu junto ao jipe que nos levaria até à outra ponta da ilha, a ultimar os preparativos para a saída, que é como quem diz, a testar as barbatanas, óculos e snorkel, quando do céu veio uma balde de água fria. A chuva parecia estar a instalar-se de armas e bagagem naquelas paragens, para desânimo dos excursionistas. A saída ficou suspensa. Confesso que não tive tempo para pessimismos, pois aquele cheiro a terra molhada, acicatou o meu refúgio das lembranças. Aquele quadro que me fez recuar muitos anos, lembrou-me tórridos dias de verão, naquelas terras, onde o calor sufocante aconselhava o refúgio numa sombra. Mas, por vezes, quando o passo era já cada vez mais curto, desabava do ventre de algumas nuvens compreensivas, a impetuosa água que parecia caída do céu como dádiva. Naquela ocasião, ninguém retirava em debandada, e muito menos abria o guarda-chuva, pois cada gota caída era uma espécie de carícia para o corpo. Sabíamos bem que dali a pouco o sol se sobreporia às nuvens, e a roupa encharcada em breve secaria.
E deambulava eu pelas memórias, quando o astro rei subiu ao seu trono de novo, para gáudio dos meus companheiros de mergulho, que assim puderam ver as suas expectativas coroadas de êxito.
Ah, mas se aquelas águas, a viver o seu inverno, fossem mais piedosas, não teria eu, ficado com elas, só pelos joelhos.
Mas os corais estavam lá, os peixes multiformes e policromáticos, também, e até duas tartarugas de bom porte nos deram as boas vindas.
Abençoada terra!

Aurélio Terra

sábado, 7 de novembro de 2009

O velho Bazar



Deslumbrado pelas imagens e histórias, que nos trazem à memória aquelas recordações de outrora, a  viagem no tempo leva-me até ao antigo Mercado Municipal Vasco da Gama, hoje Mercado Central de Maputo. Trata-se de um edifício de traça colonial ,construído em 1901 em plena baixa da capital moçambicana, onde o cimento, estruturas metálicas bem trabalhadas e madeira se fundem em perfeita sintonia. Quantas vezes entrei por um dos quatro portões, muitas vezes acompanhado pelos meus pais para necessárias compras. Recordo a azáfama  no seu interior, povoado de vendedores e vendedeiras que representavam todos os continentes, numa simbiose de raças e culturas. Em pleno Verão, era vê-lo apinhado de turistas sul africanos e também muitos rodesianos, transmitindo mais vida aquele espaço. Era usual caminharem pelos corredores, descalços, trajando simples calções de caqui ou desportivos, camisolas interiores coloridas e chapéus de palha. Ao tiracolo traziam sempre a inseparável  Kodak para recolherem fotografias para os seus álbuns de férias. Pelo meio sucediam-se as inevitáveis pisadelas que nos obrigavam eticamente a pronunciar o tradicional sorry. Ouviam-se os pregões  das mamanas (mulheres negras adultas) que anunciavam a venda de frutas tropicais, marisco e víveres do mar. Como era agradável  sentir no ar o aroma daquelas suculentas  e apetecíveis  mangas, tingidas de amarelo e vermelho lacrimejando uma espécie de resina, papaias sarapintadas, ananases e abacaxis enfeitados com as suas coroas de folhas, as afamadas tangerinas de Inhambane , citrinos e cocos apaladados. Regateava-se o preço de todos os produtos. Num dos recantos do mercado, as panificadoras, tinham os seus pequenos depósitos de vendas onde se podia comprar bom pão e os famosos scones  e outras doçarias. Também  não faltavam as bancas dos produtos hortícolas e os poemas dedicados aos agriões dos viveiros do produtor Louro. A ala dos indianos vendia as maçãs, peras, uvas e pêssegos, fruta importada da cidade do Cabo. Das prateleiras das suas lojas, eram vendidas ao cartucho as especiarias que nos invadiam as narinas, muito especialmente o pó de caril que fazia as delícias de uma gastronomia recomendada. Pertenciam a esse clã as lojas de vendas de roupas tropicais, capulanas garridas, todo o tipo de bugigangas, brindes, missangas e artesanato. Junto a um dos portões ficavam os postos de venda de aves. Não esqueço que junto ao portão da fachada, se achava o popular café do “Xico” do bazar que tinha a singular particularidade de por vezes servir cafés, sem colher .Nas mesas do fundo em tabuleiros já gastos pelo tempo, jogavam-se partidas de damas, muito acaloradas. E se me permitem, por hoje cabe-me encerrar o bazar, dispensando as badaladas do paciente sino de latão. Acho-o por momentos vazio, aquele centenário bazar sempre jovial aos olhos de quem bem lhe quer, que tudo vendia à exceção da simpatia, que era oferecida pelos seus arrendatários...

Manuel Terra

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Sol aos quadradinhos



Se há locais onde muita gente espera nunca ter frequentar, esses são certamente aqueles donde o sol se pode ver aos quadradinhos. Presumimos pois, pelo que simboliza a expressão “sol aos quadradinhos” que quem vê o sol desta forma, não será pessoa muito recomendável. Mas, nem sempre é assim. Posso afiançar que fui obrigado a concluir, no verão deste ano, que há muita gente de bons costumes que optou por ver nascer o sol aos quadradinhos, em detrimento de uma exposição plena ao astro rei.
Refiro-me aos habitantes da cidade de Maputo, que em muitas zonas, vivem em apartamentos devidamente fortificados. Quem está de visita a esta cidade, não pode deixar de reparar no procedimento inusual que os seus habitantes adoptaram ao fechar as suas varandas de alto a baixo com um gradeamento à prova dos “irmãos Metralha”. Não consta que por estas paragens vivam muitos “tio Patinhas”, mas acontece que os amigos do alheio deitam a mão a tudo o que seja uma mais valia aos seus parcos rendimentos.
E se o morador de um primeiro andar não hesita em proteger-se com essas grades de material ferroso, logo o vizinho que por cima dele mora, sentindo que aquelas grades se podem tornar numa escada de acesso fácil à sua habitação, fortifica também a sua varanda. Ora, um procedimento assim, provoca uma reacção em cadeia que faz com que o morador do último andar (seja ele um 10º piso, mais coisa, menos coisa), também sinta necessidade dessa protecção.
Fiquei mesmo com a sensação que o “homem-aranha” se tinha passado para o lado do mal e que viveria por aquelas paragens. É que conseguir chegar, através das varandas blindadas aos últimos andares de alguns “arranha céus”, é obra só ao alcance desse super herói.
Ao olhar para esses edifícios, repletos de grades, umas mais lineares, outras mais trabalhadas, mas já tomadas de assalto pela corrosão, pareceu-me estar na presença de prédios assombrados.
Esta é uma realidade que faz com que o visitante se sinta inseguro em algumas áreas da cidade.
Calcorreei a pé muitas das avenidas de Maputo, ignorando conscientemente o sentimento de insegurança.
O amor por essas terras venceu esse receio!

 Aurélio Terra

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

O Jardim Botânico






Nas viagens ao passado, toca-me de uma forma muito especial o antigo Jardim Botânico Vasco da Gama, que no portão principal ostentava um majestoso arco trabalhado, em estilo manuelino. Sei que desse arco foram retiradas as esferas e as cruzes de Malta. Hoje designa-se Jardim Tunduru. À frente da entrada figura uma estátua do Presidente Samora Machel. Como se localizava muito próximo da Escola Industrial, sempre que havia uma “borla” (correspondente a uma falta de presença do professor a uma aula) eu, o meu irmão e muitos colegas, descíamos a Av. Augusto Castilho/Vladimir Lênin e pelo portão fronteiriço ao Edifício do Rádio Clube dirigíamo-nos para o interior daquele maravilhoso pulmão verde. Como já seria de esperar a primeira paragem era nos courts de ténis, para observar as elegantes”bifas”(sul-africanas) que batiam umas bolas, mais para cuidar do físico do que propriamente competição.
Depois calcorreávamos, as suas ruas alcatroadas e abraçadas por árvores de grande porte, devidamente classificadas sobre as espécies e origens. No centro do jardim, avistava-se um moderno coreto, onde nos tempos da minha infância os meus pais nos conduziam quase obrigatoriamente aos concertos da Banda Musical da Região Militar e a programas de variedades. Também não esqueço as suas belas fontes esculpidas por artistas de grande talento. Depois era a passagem pelo longo corredor, coberto por enormes trepadeiras que cobriam os velhos bancos de ripa verde, recôndito de muitos Romeus e Julietas que tentavam escapar a olhares furtivos e aos raios solares. Defronte surgia a grande estufa, recheada de múltiplas plantas indígenas e exóticas onde reinava um silêncio relaxante só quebrado pelas quedas de água que beijavam suavemente as pedras da sua magistral cascata. Mais longe a vozearia das rãs eram o indicador do lago dos patos e gansos, que disputavam como danados os amendoins lançados por gente que circundava em passo lento, às voltas do mesmo. Por fim era a debandada apressada, para o regresso às aulas que se seguiam. Para trás ficava aquele oásis de sombra da população laurentina, sinónimo de descanso, amores e diversão, que ficará para sempre imortalizado na memória de todos aqueles, que um dia tiveram o privilégio de o visitar.

Manuel Terra

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Catembe, o outro lado de lá!




Do outro lado da Baía que abraça Maputo está a  Catembe. Atrevo-me a afirmar que ninguém pode dizer que conhece Maputo sem ter ido à Catembe. A viagem, de barco demora tão só 15 minutos. É uma viagem onde nos instalamos de costas para o destino, pois não conseguimos tirar os olhos de Maputo, tal é a beleza que desfila no horizonte ao jeito de um “Zoom Out”.
Sempre disponíveis para a travessia, num vai-vem permanente estão os incansáveis ferry-boats, com uma idade que justificaria a sua reforma. Constitui até um desafio, tentar perceber qual a cor que já revestiu essas embarcações, tal tem sido a verocidade da ferrugem, que não precisa de muito para arrasar qualquer, descuidada,  superfície de metal ferroso. Este é um transporte que desconhece o que são horários e que alberga sempre mais um passageiro, nem que seja ao colo de outro. Confesso que como europeu me causa algum embaraço ter que me acomodar num regaço que não seja objecto de livre escolha. Assim, não me restou outra alternativa, senão a de viajar no batelão, que pelo facto de obrigar à compra de um bilhete mais caro, já tem lugares disponíveis. Neste caso, os horários estão bem definidos e, o que é mais interessante  é que  são mesmo cumpridos.
Então, de costas para a Catembe fui partilhando com a máquina fotográfica os excepcionais enquadramentos que Maputo oferece. E durante  um quarto de hora senti-me a passear  pelo tempo, enquanto me deixava acariciar pelas memórias. E acabei por viajar ao  colo do regressado passado.



Após o desembarque na Catembe, e porque o estômago fazia questão de me lembrar constantemente o seu vazio, procurei arranjar alguma cabine telefónica donde pudesse ligar para o Restaurante Marisol. Impunha-se uma operação de resgate, já que só um 4x4 conseguiria vencer a esburacada estrada em terra batida que liga o cais ao restaurante..
Depois de bem suar as estopinhas, lá consegui uma ligação para o Marisol, que,diga-se em abono da verdade, prontamente veio em meu socorro.
Este restaurante continua a ser uma referência da boa gastronomia, tal como acontecia no tempo em que as refeições se pagavam em dinheiro português. A sedutora natureza que envolve o Marisol é um extra que ajuda a memorizar este local.
Terminada a refeição, atraído pelos contornos da bela cidade de Maputo, desfiz-me das sandálias, e por bem mais que uma hora caminhei, na praia,  embriagado pelas lembranças que o tempo não conseguiu rasurar.
No regresso, optei de novo pelo batelão, fazendo desta vez o “zoom in” que as fotografias testemunharão para sempre.

P.S. Nesta data, entrou já em funcionamento, na ligação Maputo-Catembe-Maputo, uma nova embarcação baptizada com o apelido  “Mpfumo”. Tem lugar para 250 passageiros, dez viaturas ligeiras e quatro camiões de 10 a 15 toneladas.


Aurélio Terra


quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Memórias do Bairro da Munhuana





Após visionar as imagens captadas pelo meu irmão Aurélio na sua recente viagem a Maputo, chamou-me especial atenção a degradação e o desleixo visível da parte imobiliária e das suas belas e invejáveis artérias. O r/c do pequeno prédio (com grades) e a rua onde moramos durante quinze anos (Luciano Cordeiro/Alberto Luthuli ), contíguo ao Bairro da Munhuana, são a prova do que acabo de citar. Por momentos, fixando aquelas imagens e porque o passado mexe com as nossas emoções, pareço recordar aquelas partidas de futebol inventado, com uma pequena bola plástica que consistia em movimentos de três contra três e introduzir o esférico nos módulos em circulo que envolviam o tronco das frondosas acácias, que serviam concretamente para a rega muitas vezes levada a efeito pelos moradores. Os mesmos troncos eram o alvo predileto para a colocação de tabelas de basquetebol, que proporcionaram partidas renhidas e participadas e que só terminavam com o pôr-do-sol. Lembro-me que num canteiro, junto ao portão onde as flores foram esquecidas, aquela pequena área de terra batida, valia pelos os inesquecíveis jogos de berlindes. Pareço ainda recordar o bulício dos carros de rolamentos que deslizavam freneticamente sobre o largo passeio, transformado em circuito de corridas, para desespero e irritabilidade dos moradores. Vejo ainda o velho muro do quintal, agora a ruir onde nos sentávamos, confidente da nossa irreverência e espírito de aventura. Meu Deus como o tempo passa. Agora só as velhas acácias que ainda hoje perduram e que nos aliviaram daquelas tardes cálidas se prontificam testemunhar toda a nossa felicidade. A realidade de Maputo jamais conseguirá apagar as recordações do nosso encantamento, de quem viveu na pérola do Indico. Apesar de tudo ó cidade envelhecida e também a rejuvenescer, confesso que continuarei a amar-te, sentindo em mim o perfume eterno emanado da tua beleza e cor, dos teus mistérios e feitiços, que ninguém consegue explicar.
 
Manuel Terra


terça-feira, 13 de outubro de 2009

Africa


Pau Preto



O artesanato em pau preto é vivamente procurado pelo turista que visita Moçambique.
Em muitos dos passeios que ladeiam as avenidas de Maputo, desfilam as peças de artesanato desse ébano africano. Confesso que me intrigou o facto de haver tanta disponibilidade da natureza, em doar essa ebanacea que o artista molda ao sabor das suas emoções.
Informou-me um expert na matéria, responsável por uma galeria de arte que visitei em Maputo, que algum do pau preto exibido nas bancas improvisadas, debaixo das acácias, nada tem digno desse nome.
Na realidade, e ainda segundo o especialista referido, algumas peças de artesanato quando finalizadas são sujeita a um banho de vioxene (aportuguesamento do francês vieux-chêne) que escurece a madeira. Mas, não fosse turista, desconfiado dar pelo logro, a graxa em preto devidamente polida completa a ilusão. Lembro-me de ter ficado intrigado ao ver, no mercado central de Maputo, um vendedor de artesanato a dar lustro às suas peças, através dos movimentos bem ritmados de uma escova que pela aparência já tinha acariciado muita obra.
Mas, acima do valor da matéria prima, sobrepõe-se a alma do artista que através de golpes de formão, delicadamente, perpetua as sua vivências. Ele sabe, que nem ele nem mais ninguém esculpirá outra peça igual. Cada obra é única, porque não se sujeita a técnicas de produção industrial.
Moçambique, é sem dúvida um País de gente vocacionada para as diferentes expressões da arte. O processo técnico, transmitido de geração para geração ganha expressão muito própria, quando o artista liberta o seu mundo existencial.

A velar pelo meu sono, tenho na mesinha de cabeceira, duas galinhas do mato em pau- preto (não cheiram a graxa), que todos os dias me fazem rememorar essa terra que me enfeitiçou.

P.S. A árvore de pau preto, cientificamente designada por Diospyros mespiliformis, é constituída por uma parte lenhosa exterior de cor clara e uma interior de lenho preto. Essa cor e a particular dureza que caracteriza a madeira, só é adquirida quando a árvore apresenta uma idade já avançada. Esta árvore, encontra-se em maior número no norte de Moçambique

Aurélio Terra

domingo, 11 de outubro de 2009

Kruger Park



Só mesmo a perspectiva de reencontrar a savana africana me faria levantar às 5 horas da madrugada para rumar de Maputo até ao Kruger Park. Mas também, o dia em Moçambique começa muito cedo, anunciado pelo canto do galo, pois há que aproveitar as horas de sol, que a noite depressa se faz anunciar.

Duas horas em princípio são o bastante para ligar Maputo ao Kruger Park, embora as formalidades de fronteira possam estender a duração do percurso.

Chegado ao alojamento no Kruger, desembaracei-me das malas e sentei-me a contemplar o quadro que a natureza me servia e que Monet não desdenharia pintar.
Olhando para o relógio, muitas vezes me assaltou a vontade de adiantar os seus ponteiros, pois esperava ansiosamente, pela 17h30, altura em que se daria início ao Safari Fotográfico, nocturno.

Chegada a hora, saltei para a aventura, que é como quem diz, subi para o jipe, sem reparar que ia mal acondicionado, no que à roupa diz respeito. Bem me avisaram que ali, depois de anoitecer, o frio é implacável. Mas dali já ninguém me arrancou. Antes de por o jipe em movimento, o guia deu a conhecer os cuidados essenciais a observar durante o Safari. Os últimos conselhos, já nem os memorizei convenientemente, porque a emoção, falava mais alto e bloqueava-me alguns sentidos.

Poucos metros após a entrada no Park, estávamos ( eu e mais doze caçadores de imagem) já debaixo de olho de uma manada de Búfalos. Olhavam desconfiados para nós mas seguros do seu papel de vigilância. Aos 14 anos tinha eu tido um encontro com esta “gente” e quase fiz, então, de tapete para o galope dos bovídeos. Agora parecia que me olhavam dizendo que já me tinham avisado há 40 anos que aquilo não era terra para homens. Submissamente desviei o olhar e quase que sugeri ao guia que partisse para outro “quadro”. A noite depressa se impôs, enquanto a temperatura descia vertiginosamente, castigando a minha imprudência de não ter levado os agasalhos necessários. Enrosquei-me numa manta que sabiamente o guia  deixou em cada lugar do jipe e improvisei um gorro que deve ter sido motivo de chacota entre os animais que me olhavam.
E Kruger adentro, com quatro focos rasgando a escuridão, seguíamos nós, até que, vindo do nada se atravessou na frente do Jipe, pachorrentamente, um imponente Hipopótamo. De modo desajeitado, livrei-me dos agasalhos e enquanto procurava precipitadamente a melhor configuração para a máquina fotográfica, naquele momento, o “bicho” quase desaparecia sem que o alvejasse com o flash. Bolas, por alguma razão as máquinas têm a opção automático!
A partir desse momento, deixei de me preocupar com o frio, embora estivesse mais parecido com um volumoso cubo de gelo. Será exagero, mas era assim que me sentia!
Enquanto o safari prosseguia, iam desfilando alguns animais de segunda categoria. Sim, que na selva também há os mais e menos notáveis.
Quando pensávamos que as máquinas já poderiam ser guardadas nas suas bolsas, o Jipe parou bruscamente. Ali a poucos metros estava agachado um leopardo que preparava o ataque a grupo de impalas, petrificadas, ignorando o perigo que se avizinhava. Mas com os focos incidindo todos sobre o felino, não restou a este outra alternativa, que não fosse a de adiar a ceia para uma ocasião com menos convidados.

E a jornada chegou ao fim. Despedimo-nos do guia, que nos disse que no dia seguinte haveria mais. E houve. Foi a vez do safari diurno.
Embora à luz do dia tenha havido mais encontros, muito mais, o safari nocturno, pelo enigma que a noite guarda foi uma experiência extraordinária.

Palavra de honra!

Aurélio Terra

sábado, 10 de outubro de 2009

Inhaca


Inhaca-Ao sul de um sonho!

Para quem está em Maputo, o desafio é simples. Uma pequena mala cheia de boas vontades e 15 minutos de ansiedade, nas asas de uma avioneta, que o paraíso está próximo!

Com os pés em terra firme, o viajante percebe de imediato que ali fica o outro lado da vida. É  aquele lado, onde ninguém corre, porque o futuro pode esperar. E extasiado o visitante percebe que aquele ar que se respira e o calor que sente é o princípio de um mundo encantado onde as cores quentes estendem os seus braços para que neles se apertem os sonhos mais inocentes.

Os ilhéus são gente humilde que da terra e do mar retiram porção da sua sobrevivência porque o resto vem do sorriso encantado do turista, que não resiste à disponibilidade de quem sabe que a vida se faz da partilha. E dão muito, porque dão tudo e ainda assim acham que tudo não é nada, porque dali a pouco o visitante, com a mala cheia emoções, partirá.

Altivos e vigilantes, estão os coqueiros, generosamente recheados de cocos, que de quando em vez se precipitam e caem aos pés (prefiro pensar assim) do visitante, para que olhe para cima e receba as boas vindas. Vivendo mais junto à terra estão as maçalas que espalhadas por toda a ilha parecem impregnadas de um verniz que a juventude ainda lhes permite ostentar. Mais tarde, já maduras sabem que o seu destino, mais do que saciar a “fome” do seu senhor será o de se transformarem, em palco das emoções gravadas na sua casca pelo artista que orgulhosamente desafia o turista a transportá-las para o outro lado do mundo.

Das suas várias pontas, sobressai na ilha, a de Santa Maria, que debaixo das  águas transparentes, guarda os corais de uma vida que abriga seus filhotes. À sua volta, em peregrinação constante ondulando vaidosamente o corpo, estão, dotados de uma beleza cromática, única, os peixes que já não se surpreendem com os olhares esbugalhados do mergulhador que se sente parte de um conto de fadas.

Vale a pena, subir ao farol, É uma subida que desafia as melhores capacidades físicas do turista, que pelo meio da ascensão faz uma paragem estratégica, não vão as forças faltar, sabendo que dali a pouco um mundo novo se abrirá. Chegado ao cimo do farol é o momento onde pequenino o visitante olha para a grandeza da vegetação que cobre de verde a ilha e que faz de tecto às suas gentes. E fechando os olhos o “invasor” sente-se conquistado por um número sem conta de notas  musicais tocadas rapidamente e repetidamente por milhares de seres pequeninos que debaixo das suas asas guardam uma generosidade tão grande. Que pena que do outro lado do mundo não seja assim.

Meu Deus, como é divino o pôr do sol. Ele que atrevidamente, desce ao compasso das horas e pincela o céu com as cores e tonalidades que paleta alguma é capaz de albergar. Sente-se que o vermelhão se entende tão bem com os tons violetas e que tudo se sombreia rendido aos encantos da luz. É um horizonte esplendoroso que desfila perante o rendido visitante que sofregamente castiga o botão da sua máquina fotográfica na ânsia de ser capaz de guardar naquela caixinha as emoções que se atravessam na sua alma.

Tanta  coisa ainda por dizer, e por mais que escreva, nunca conseguirei fazer jus a este pedaço de paraíso  abraçado pelas águas do Índico.

Até um dia, Inhaca !

Aurélio Terra

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Bilene



A cerca de 200 km da capital Moçambicana, plantada de raiz na natureza está o Bilene.

Qualquer razão é válida para justificar uma visita. Até se for para não se fazer nada.

Entranhada nesta bela localidade, está uma paradisíaca lagoa ligeiramente salgada que ostenta um espelho de água imaculadamente límpida numa extensão superior a 25 km .
O desafio colocado a quem a visita é imediato. Um mergulho rasgando as suas águas.
Mas note-se que essa experiência poder ser ainda mais agradável se for praticada em Dezembro. Assim , nesta época, já se  pode  desfrutar dos 30 ºC  que a água oferece . Isto digo eu, que com águas a menos de 27ºC  já se acha um pinguim.
Se, por acaso, o visitante é daqueles que adora “quebrar” as ondas, então deve meter-se num barco, atravessar a Lagoa para o lado de lá (em escassos minutos) e dar largas à sua vocação mais radical numa praia de dunas arenosas onde a água desmaia a seus pés. Mas, se pelo contrário a sua preferência, for por águas pouco onduladas e que ofereçam “pé firme” durante muito tempo, então deve optar pela lagoa. Aí, é só deixar-se ficar em “banho maria”, enquanto frui do verde exuberante encantado pelo canto afinado que sai de bicos tão pequeninos e magnânimos.
Para os amantes da natureza mais selvagem que dispensam os luxos oferecidos pelos complexos turísticos em betão com um bom número de estrelas,  encontra-se do outro lado da lagoa, em perfeita harmonia com a natureza, um”Lodge” muito interessante.

Há destinos onde, mesmo quando nada acontece, a natureza por si só se encarrega de tudo. E como nobre é ela.

Bilene é um desses locais!

Aurélio Terra